quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

As férias, e a reflexão.

Oi, gente. Estou de férias né... e ando muito reflexiva nesses últimos tempos. Escrever é uma coisa que me faz colocar os pensamentos em ordem, tipo uma terapia. Eu escrevo, eu releio, eu penso sobre aquilo. Eu deixo salvo em uma pasta perdida no computador, e esqueço. Aí um belo dia, encontro de novo, leio mais uma vez, e vejo tudo de outra perspectiva. Ou não... as vezes só dou uma cutucada nas velhas feridas mesmo. Sabe quando a gente tem um machucado sangrando, e quando ele finalmente começa a querer curar a gente vai lá e arranca a casquinha? É uma boa metáfora. 
Bom, nem tudo que eu escrevo vem parar no blog, e não é como se fosse um diário, são só pensamentos. Pois bem, mas acredito que por esses dias vocês vão acabar me vendo com uma frequência maior por aqui. Eu acho. 

O último ano foi complicado, né? Cheio de extremos e coisas inesperadas, altos e baixos... mas acho que isso é o que dá emoção pra vida, sei lá, faz a gente se sentir vivo. O objetivo desse post não é fazer um balanço de como foi o ano nem nada, nem passar uma mensagem bonitinha de superação e desejos para o próximo ano. Não é isso. Aliás eu não estou com cabeça nenhuma pra fazer isso, porque na real eu preciso é organizar a minha vida.

Esse ano eu vivi pra universidade, e isso não é de todo ruim... tirando o fato de que eu esqueci de mim mesma. Me larguei totalmente. Antes, eu vinha numa fase bem legal de amor próprio e cuidado comigo mesma. Auto-estima estava legal, eu tava conseguindo ser um pouco independente, tava prestando atenção em mim, indo pra academia todo dia, feliz, endorfinas e etc... feliz em me olhar no espelho, em usar uma roupa nova, ajeitar o cabelo, usar uma maquiagem diferente... 

Daí veio a reviravolta na vida. Me adaptar em uma cidade diferente foi ok... eu conheço pouca coisa da cidade, visto que minha rotina se baseia em ir de casa pra universidade e vice versa, todos os dias. No máximo uma caminhada pelo bairro, uma ida até o centro, umas voltas na redenção e olhe lá. 

Me adaptar em uma casa que não é a minha, em uma cama improvisada que não é a minha, consciente de que aquele espaço é emprestado e não me pertence, não foi tão ok. Passei o ano me anulando de todas as formas para não incomodar. Sem reclamar. Sem fazer barulho. "Foca no que tu veio fazer aqui". "Ignora o barulho e te concentra, faz as tuas coisas". "O principal aqui é estudar, não fica de mimimi!". "Não esquece que tem que ir no mercado, tem que lavar a roupa, tem que tirar a roupa seca da corda e guardar, tem que fazer comida pra amanhã, não deixa nada sujo na cozinha. Tem que recarregar o vale transporte, tem que sacar o dinheiro das contas desse mês, tem que manter tudo organizado, tu não pode ser um empecilho aqui, tu não tem pra onde ir". Isso em meio à pressão psicológica das milhões de provas, e trabalhos, e de tentar ser suficientemente boa o bastante para não repetir matérias na universidade, pra não ter que alongar ainda mais a minha estadia.

Não é como se eu não tivesse que ter responsabilidades também, se morasse sozinha. Ou se pelo menos dividisse o aluguel, tivesse um quarto, uma porta pra fechar e poder ficar sozinha de vez em quando. Eu ainda teria que ter todas essas ~responsabilidades de adulto~, porque elas fazem parte da minha vida, agora. Mas não é isso que me incomoda. Não é o cansaço de ter coisas pra fazer. É a constante sensação de que eu estou sendo um empecilho, sabe? De que nada daquilo me pertence, e eu só preciso abaixar a cabeça e aprender a conviver, mesmo que algo me desagrade.Também não é como se eu fosse mal agradecida, e estivesse reclamando. Eu sou grata por poder usufruir de algum espaço, e por causa disso ter a possibilidade de seguir estudando. 

O fato é que ao longo do ano, toda aquela onda de amor próprio e cuidado comigo mesma... desapareceu. Seja pelo motivo que for... sumiu. Como agora eu vivo de bolsa, e a grana é beeeeeeeeem limitada, desisti de procurar uma academia. E passei a me alimentar super mal, também. Seja pela preguiça + falta de habilidade de cozinhar algo mais elaborado todos os dias... seja pela grana curta, que só deixa comprar o essencial no supermercado. Digamos que esse ano eu comi mais miojos do que nos últimos 5. E pizzas congeladas. Várias. Não preciso nem dizer que engordei, né? Mas foda-se... é só usar roupas mais largas. "Foca no que tu veio fazer aqui, vai estudar. O resto não importa."

Desisti de manter o meu cabelo bonito. Ele era enorme, mas estava um bagaço. Cortei na altura do ombro. Preciso dizer... eu gostei. Dá muito menos trabalho! E aproveitei pra doar o pedação que saiu, pro hospital da criança, na Santa Casa. Eles fazem perucas com os cabelos doados!


 Mas daí eu desisti de pintar, também. E ele foi ficando cada vez mais opaco e desbotado. E a raiz, crescendo e deixando aparecer vários fios brancos que até não muito tempo, não existiam. "Isso não importa também. O que importa é que tu tem 5 provas essa semana, e precisa estudar". 

Ganhei olheiras, que foram ficando gradativamente mais escurecidas, pela falta de sono de qualidade. Ah, eu dormi... dormi bastante. Dormi encolhida na poltrona, quando estava com dor de cabeça demais pra continuar estudando. Dormi incontáveis cochilos nos sofás do DCE, na universidade, com as luzes acesas e uma galera conversando, jogando sinuca ou tocando violão em volta. Não me admira que eu estivesse sempre com dores terríveis nas costas. Não me admira que eu vivesse com sono. Sempre exausta, sempre cansada. Meus olhos, antes tão grandes e expressivos, estavam inchados e sempre semicerrados. As dores de cabeça... essas me acompanharam por vários dias. Sem falar nas crises de rinite alérgica. 

Maquiagem? Isso existe? Eu que não ia perder 10 minutos a mais de sono pra levantar mais cedo e me maquiar. Como eu ia maquiar meus olhos, se eles mal ficavam abertos, e eu passava o dia esfregando eles? Vou te contar como eu andava me arrumando: 15 minutos antes do horário que o meu ônibus passava, eu levantava. Colocava uma roupa qualquer. Espelho? Não... não tem espelho. Eu me olhava no reflexo da tela da televisão... as vezes. Ok, tem o espelho do banheiro, só de rosto. Lá eu escovava os dentes correndo, dava uma olhada na minha cara e, no máximo, prendia o cabelo com um elástico, se estivesse muito calor, ou se o cabelo estivesse muito bagunçado. Só isso. Pegava a mochila e saía correndo. 

E essa é a minha cara de "felicidade", na ultima semana do semestre.


Mas agora estou de férias. "Ah... férias. Agora tudo será diferente!"

Como vocês sabem (eu acho), voltei pra casa, em Caxias. Fazem mais ou menos 3 semanas que estou de férias. E, cara... como é estranho ter tempo pro ócio! Como é estranho ter tempo pra futilidade! Como é estranho ter tempo pra... cuidar de mim. Eu ainda sei fazer isso? Ainda sei cuidar de mim?
Me "aventurei" nas minhas maquiagens. Redescobri elas. Na verdade, estou redescobrindo aos poucos. Nessas semanas que estou de férias, eu já cortei mais um pedaço do meu cabelo. E pintei. E retoquei/matizei a mecha descolorida. Fiz pés e mãos. Esmaltes? Meu deus, eu tenho uma caixa de esmaltes! Quando foi a ultima fez que eu fiz as unhas? E as sobrancelhas? E o buço? Fiquei apavorada. Vi outro rosto no espelho diante de mim... um rosto com o qual eu não estava mais acostumada, do qual eu havia me esquecido.


Saí sozinha, fui no cinema, comprei livros, e li pelo simples prazer de ler... sem nenhuma obrigação. Assisti séries, temporadas em sequência... sem me sentir culpada porque eu deveria estar fazendo alguma outra coisa em vez disso. Dei uma volta, comprei batons novos! E umas roupinhas! Fui no oftalmologista, e descobri que minha miopia aumentou 1 grau. Fui fazer lentes novas pros meus óculos, inclusive pros óculos escuros. Encontrei amigas! Saí! Fui a um show, fui pra pizzaria, pro xis... não pela comida, mas pela companhia. Pelas horas de conversa cara a cara. Pelas histórias. Pelas risadas. A quanto tempo eu não fazia isso? Quando foi a ultima vez que eu saí?

Esvaziei meu guarda-roupas, e enchi três sacos ENORMES de roupas pra doação. Roupas que eu simplesmente não usava mais, ou que ficaram pequenas, ou que eu tinha guardadas desde os meus 14 anos pelo simples apego. Ainda preciso fazer o mesmo com os calçados. Acho que foi uma espécie de "preparação"... uma hora eu vou ter que mexer nas coisas da mãe. E separar. E ver com o que eu quero ficar. E levar o restante pra doação. Ainda não me sinto preparada pra isso... mas uma hora eu vou fazer. E vai ser antes de as férias terminarem.


Estou sem perspectivas pra 2016. Eu sei que vou voltar pra Porto Alegre. Eu sei que vou voltar pra UFCSPA. Eu sei que vou voltar pra rotina trabalhosa e cansativa. Só não posso deixar ela me engolir. Nem quero voltar a me anular. 
Preciso arrumar uma maneira. Preciso de mais dinheiro. Preciso dar um jeito de morar em outro lugar. De ter um pouco mais de liberdade. De privacidade. Preciso ter a liberdade de deixar uma baguncinha pra lá quando não estiver afim de arrumar. De almoçar fora quando não estiver com saco de cozinhar as 10hs da noite, pra levar marmita no dia seguinte. 
Preciso ter um tempo pra mim e FOR THE LOVE OF GOD....... preciso levantar essa bunda gorda e por ela pra fazer exercícios. Lembra do prazer que era aquela bomba de endorfina depois de uma aula de spinning, Valeska? Lembra como aquilo era gostoso? A quanto tempo tu não sente isso? Não tá legal esse sedentarismo. Não tá legal essa rotina, em que o ponto alto do dia é se encostar num sofá qualquer pra conseguir dar um cochilo. Não tá legal. Quero voltar pra universidade. sim. Mas não quero voltar pra essa rotina na qual não existe EU.

Nenhum comentário:

Postar um comentário